domingo, 19 de setembro de 2010

O peso das palavras: shaming não está com nada!



Meu querido poetamigo Manoel Affonso de Mello tem uma frase que adoro: "Palavra: a mais poderosa das armas. Não pelo tom, mas pelo eco." Esta semana eu vivi duas experiências que me fizeram refletir sobre o peso das palavras e o uso que damos para elas.

A primeira foi em São Paulo, na terça-feira 14. Fui a São Paulo para entrevistar o Diretor Estratégico da Consumers International, Joost Martens. E perguntei a ele quais seriam as regras para o Bad Company Awards deste ano, tendo em vista que no ano passado as empresas foram escolhidas com base em Greenwashing e o tema continua atual e estratégico. Ele me respondeu que não sabia se este ano haveria o "prêmio" porque a estratégia de "naming and shaming" tomava muito tempo para elaboração dos indicados e trazia pouco resultado efetivo. Que o melhor a fazer era trabalhar na conscientização e na parceria com as empresas. Fantástico! Quando ouvi isso fez-se uma luz na minha cabeça. Isso aí, "shaming" não está com nada! Cria inimigos, carrega uma energia pesada. O que todos querem é apoio, incentivo, bons exemplos a seguir!
 
A segunda experiência aconteceu ontem, no Rio, quando vi a exposição sobre os 120 anos de nascimento de Anita Malfatti, no CCBB. Eu já tinha escutado falar sobre a crítica de Monteiro Lobato à exposição dela. Mas não tinha apreendido o que tinha acontecido. Sabe aquela coisa que a gente ouve na aula de Literatura, mas passa batido? Pois bem, tinha sido assim. E eis que ontem eu percebi o peso que as palavras de Monteiro Lobato tinham tido na vida e obra de Anita Malfatti. Era uma "simples" crítica de jornal sobre a exposição. Mas machucou profundamente a artista, deixando a sua obra um tanto mais conservadora. E o mundo nunca saberá aonde Anita poderia ter chegado se não tivesse sofrido tal castração por parte de Monteiro Lobato.

Ok, ok, não adianta apontar canhões para Monteiro Lobato agora. Mas com esses exemplos eu quis propor uma reflexão acerca do que os profissionais de comunicação comunicam. O que estamos fazendo com o poder que temos? Vamos educar em vez de envergonhar?

Uma crítica nunca é simples. E há diferentes tipos de críticas. Há as críticas justas. Mas há também aquelas feitas por ignorância, seja por não saber do que se está falando, seja por não alcançar a grandeza do conceito proposto; as feitas por má fé; por inveja ou vingança, etc. Antes de criticar alguém vamos parar e pensar: o que me leva a fazer tal crítica? Em que ela pode ser "construtiva"? Ela é justa? É isso!

Se alguém quiser ver a tal crítica de Monteiro Lobato à exposição de Anita Malfatti, publicada em 20 de dezembro de 1917, no jornal O Estado de São Paulo, clique aqui. A minha entrevista com Mr Joost será publicada em breve pela Proteste. Quando sair, eu aviso!

PS: Hoje o Imagem E Comunicação completa seu primeiro aniversário! Parabéns pra ele! :-)

2 comentários:

Gaulia disse...

Educar em vez de envergonhar - maravilhoso! Lembrando que a crítica num tom construtivo às vezes é necessária. Tudo depende de níveis de consciência - o que estamos dispostos e abertos para perceber sobre nós mesmos. Uma crítica por vezes mais áspera pode doer, mas em alguns momentos pode dar mais chão, trazer para a realidade alguém que insiste em se iludir ou mesmo uma organização inteira que olha apenas para o próprio umbigo. Mas a proposta de não envergonhar é válida! Abraços,
Gaulia

Tatiana Maia Lins disse...

É aquele lance da diferença entre um tapa na cara quando a pessoa está fora de si e bater no outro porque faltam argumentos para manter um diálogo... O que mais há por ai é a agressão gratuita, que só serve para dar prazer ao agressor. E eu não quero me alimentar desse prazer tão pequeno. Quero fazer críticas de forma mais consciente! Quero, assim como vc, luz na minha vida, Gaulia querido! ;-P